A transformação de um lixão com um milhão de toneladas de resíduos em Pelotas

Há quase uma década, o Sanep investe mais de R$ 1,5 milhão todos os anos para manter a estrutura desativada desde 2012, na zona norte da cidade

16/07/2020 | 11:07:48


Se alguém te dissesse que, hoje, em plena área urbana de Pelotas há mais de um milhão de toneladas de lixo concentrado em um mesmo local, você acreditaria? Se a resposta fosse sim, logo, viria à mente a preocupação sobre os efeitos de tantos resíduos sólidos acumulados no mesmo espaço, por várias décadas, e as consequências disso ao meio ambiente, à saúde da população e à sustentabilidade. 

Pensando nisso, há quase oito anos, o Sanep prova que, sim, é possível manter milhares de toneladas de resíduos no centro urbano de Pelotas, alojadas em células (onde ficam dispostos os lixos), sem que elas se tornem um problema ambiental ou um transtorno na vida dos moradores.

Todo o trabalho no local busca privilegiar o meio ambiente, possibilitando que a área, no futuro, se incorpore ao patrimônio público de Pelotas - Foto: Rodrigo Soares

Essa é a realidade do aterro localizado na zona norte de Pelotas, com 10 hectares, desativado desde junho de 2012. Desde então, mais de R$ 10,5 milhões já foram investidos pela autarquia – cerca de R$ 1,5 milhão por ano – para manter a estrutura e conservá-la com os cuidados apropriados, que respaldam a transformação deste antigo lixão em uma área controlada diariamente por profissionais especializados.

Por isso, quem vê de fora não imagina o que já foi feito para deixar o lugar como está agora, sem catadores, cheiro ruim, roedores ou insetos, ou seja, sem nada que possa lembrar o depósito de lixo que ficou no passado. Diversas foram as operações realizadas para mudar a configuração do local, como a impermeabilização do solo, construções para tratamento do chorume (líquido resultado da decomposição da matéria orgânica, que pode ser prejudicial ao lençol freático), controle dos gases emitidos, como o metano, manutenção dos taludes, que dão estabilidade para o aterro, e controle de processos erosivos.

De acordo com a diretora-presidente do Sanep, Michele Alsina, todo o trabalho busca privilegiar o meio ambiente, possibilitando que a área, no futuro, se incorpore ao patrimônio público de Pelotas. Com todo o cuidado e investimento aplicado de forma eficiente e segura, a expectativa é de que ela possa se tornar passível de visita e de uso comum para a população.

Foto: Rodrigo Soares

Aterro na atualidade

Conforme prevê a legislação, depois de desativado o aterro, o controle da autarquia precisa se estabelecer por 20 anos. Ou seja, o Sanep manterá o serviço até 2032, projetando, pelo menos, mais R$ 18 milhões de investimento para a manutenção do local, que precisa de atenção diária em relação à estabilidade, possíveis deformações e controle de processos erosivos, por exemplo. O aterro conta com vigilância 24 horas por dia e a atuação de 12 profissionais, entre operadores de máquina, operários e engenheiros. 

Mesmo com as atividades encerradas há oito anos, o trabalho no espaço ainda é grande. Além das estações de tratamento em operação, que precisam ser monitoradas, ainda há o sistema de drenagem pluvial para água da chuva, drenagem de chorume e de gás, que precisa ser queimado para não haver contaminação do ar, e equipes que controlam o sistema erosivo. 

No passado

Há 34 anos trabalhando no Sanep, o coordenador do Departamento de Resíduos Sólidos, Edson Plá Monterosso, foi testemunha do processo transitório do lixão para o aterro controlado. Ele explica que até o início da década de 90, a cidade conviveu com o lixo ali depositado causando complicações em termos ambientais, já que não se tinha nenhuma operação técnica na sua execução, portanto, o risco era elevado. Exemplo disso é que pragas, como ratos e baratas, habitualmente encontradas em cenários como este, são consideradas vetores diretos ou indiretos de doenças, já que podem transmiti-las ao entrar em contato com os seres humanos.

Aterro conta com vigilância 24 horas por dia e a atuação de 12 profissionais, entre operadores de máquina, operários e engenheiros. Foto: Rodrigo Soares
“Antes de o Sanep assumir, tínhamos cenas degradantes, com resíduos expostos, porcos, catadores e muita contaminação do solo e do ar. Quem conheceu antes, sabe que a transformação foi radical. Hoje temos tanto uma estrutura de maquinário quanto de pessoal dedicada a manter o local em bom estado, o que justifica o investimento de mais de um milhão por ano”, ressalta o coordenador. 

O coordenador registra que foi ainda na década de 90 que foi construída a primeira estação de tratamento de efluentes. No início dos anos 2000, a autarquia deu fim ao lixão e começou a controlar o aterro, iniciando uma nova fase no local, considerada um marco nesta importante transição. Isso porque foi neste período que mais melhorias foram feitas, como a construção da segunda estação de tratamento de efluentes, com mais um filtro aeróbio, outro anaeróbio e duas lagoas facultativas, o que se tinha em número reduzido na década anterior.

Em 25 de junho de 2012, o espaço foi desativado e teve suas atividades encerradas – até então, cerca de 180 toneladas de lixo chegavam ao local diariamente. A partir daí, o Sanep passou a enviar todos os resíduos sólidos produzidos no município à Estação de Transbordo, que é composto por balança rodoviária, pátio coberto de descarga e carregamento com piso impermeável, e de onde são encaminhados para o Aterro Sanitário Metade Sul, em Candiota, a 150 quilômetros de Pelotas.

Arte: Camila Soares


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